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Ficção do nono

Confira abaixo os contos de nossos escritores: Jullie, Júlia, Rafael, Tomás e Henrique

Recentemente, lemos o livro "O Alienista", de Machado de Assis.

Inspirados na discussão sobre a loucura presente no livro, Jullie, Júlia, Rafael Tomás e Henrique escreveram contos que tratam desse tema.



***


Um Mundo em uma Pintura
Escritora: Jullie


         Hoje, passamos por alguns problemas, e algumas pandemias. Mas nenhuma como essa.
 
         Em um futuro distante, um novo vírus se espalhou pela terra. O vírus atacava diretamente o cérebro, e então, era como se a pessoa fosse afetada por uma substância alucinógena: seus sentidos param de funcionar tão bem quanto deveriam, e o mais devastante, ela perde a capacidade de perceber profundidade e perspectiva. As 3 dimensões que se percebe ao olhar ao redor, viram uma única. É como se você estivesse preso em uma pintura com objetos indistintos e amontoados. A descoberta desse novo vírus, causou um desespero geral, era uma nova pandemia, que trazia danos irreversíveis aos infectados. Não se sabia ao certo como se dava a contaminação, mas depois de algumas semanas em que as pessoas circulavam normalmente, foi o suficiente para que dois terços da população mundial fossem de infectados. Assim, o pânico tomou conta de todos, que esvaziaram mercados e se trancaram em casa. Ninguém se arriscava a sair de casa, o medo de ser infectado era maior.

        Tom era um desses em quarentena. Tinha pouco mais de 20 anos. Especialistas descreviam que ao ser infectado pelo vírus, você se sentiria dentro de uma pintura. Você não conseguiria distinguir o que é a mesa, o que é a janela, o que são as paredes ou o que é o mundo fora da casa. Os objetos pareceriam flutuando, e as pessoas em meio a essa bagunça pareceriam loucos, agindo como se tudo aquilo fosse normal. Arrumando uma mesa e colocando frutas na fruteira, e não seria possível perceber se ao menos havia uma mesa. Tom morava com seu amigo, Bob

        -Você tem medo de ser infectado? -perguntou Tom
        -Hum.. Não. -respondeu o amigo
         -Como não? Não tem medo de que vai mexer com a sua cabeça?
         -Eu sei que mexeria, então tento não pensar demais em como vai ser.
         -Precisamos buscar novos suplementos. Remédios.. comida...
         -Tudo bem. Quando iremos?
         -Amanhã?
         -Certo.

        Logo cedo, os dois arrumaram mochilas para guardar trazer tudo na volta. Sair era algo muito arriscado. Se alguém os visse, seriam presos, e na prisão, provavelmente acabariam infectados. Mas ao sair de casa, também poderiam se infectar. Mas não tinham escolha, a comida havia acabado.

      -Vamos.

        Os dois estavam disfarçados, e andavam cautelosamente para que ninguém os visse. Durante o percurso, Tom estava muito tenso e preocupado. Tinha muito medo do que poderia acontecer. O amigo chamou sua atenção várias vezes, lembrando-o de que era normal ter medo, mas que não podia deixar o medo tomar conta dele, que tinham que manter o foco e então daria tudo certo. Mas Tom não conseguia parar de pensar no que aconteceria se os vissem, se ele fosse infectado, se ele sentiria dor, se seria como viver um pesadelo.

       De repente, enquanto os dois andavam, Tom cambaleou e caiu em seguida. Seu olhar tinha uma expressão assustada e confusa. Bob tentou ajudá-lo, mas era tarde demais. Estava infectado.

        O ‘vírus’ na verdade, não se sabe ao certo como, atuava como uma espécie de paranoia. Cada uma tinha a sua, e quando se deixava consumir pelo medo do que aconteceria a seguir, essa paranoia vencia, e a pessoa era consumida, por seu próprio medo, causava sua própria ruína. Quando se tornava grande demais, esse medo ficava maior que seus instintos de sobrevivência, que seus valores, até maior que seus sentidos. Ele mexia com o jeito que você via as coisas, com sua perspectiva, e você passava a ver tudo de um jeito completamente louco, passava a (literalmente) viver dentro do seu medo.


***

O mundo não é mais o mesmo
Escritora: Júlia

    "O mundo não é mais o mesmo" era a frase que meu pai mais dizia antes de se suicidar. Meu pai era um médico bem respeitado e todos os chamavam de Dr. Petrova.
     Quando tudo isso começou ele dizia que a ciência tem o inefável dom de curar todas as mágoas. O desespero é enorme, não tínhamos avisos, ou precauções e os sobreviventes vivem com a incerteza do dia de amanhã.
    A verdade é que não tem nada que possa ser feito .
    A primeira ordem foi de ficar em casa e não sair, mas por conta do instinto de sobrevivência e de  necessidade as pessoas começaram a sair de suas casas.
     Eu estou sozinha há tanto tempo, que nunca mais ouvi alguém me chamar, apenas nos meus sonhos que escuto meu pai dizer "Scarlett, você é uma sobrevivente".
      Eu caí em profunda melancolia, fiquei amarela, magra, como pouco, e suspiro a cada canto e não ouso fazer uma queixa. Sinto falta do barulho, da alegria e da liberdade, a cada dia me sinto mais sozinha sinto que estou sufocando, enlouquecendo.
    O nome da síndrome é Cotard, ela faz com que a pessoa infetada acredite que está morta e pensam que são imortais. E acabam se matando, ficam violentas, esquecem da vida que tinham antes e perdem sua identidade. A contaminação é pelo ar de uma forma rápida.
      A verdade é que eu não sei se existe uma cura, ninguém sabe. Agora é um mundo sem leis, um mundo onde milhões morreram. Eu não sei do dia de amanhã,  mas o de hoje se resume a esperança e sobrevivência.



***

A DOENÇA
Escritor: Rafael

          As pessoas estão com medo, não podem sair nem para comprar comida, e todos estão morrendo com essa doença...
          Eu e minha irmã estávamos comemorando meu aniversário de 12 anos, e já fazia um ano e meio que meus pais haviam falecido... Estávamos muito tristes, pois fizemos o bolo favorito deles... Eles não poderiam...

    - Sofia, você não vai querer bolo?
     -Não, José, obrigada.
     -Por que está assim?
     -Saudades do pai e da mãe...

        Resumindo, essa doença é totalmente contagiosa, e não sabemos o que fazer. Meu pai e minha mãe sempre falaram que não devíamos entrar em contato com nada do mundo externo, mas não demos ouvidos. Demos moradia para todos os moradores de rua do bairro, e no fim ficamos contaminados

      -José, o que fizemos?
      -Sofia, pense em quantas pessoas ajudamos!
      -Mamãe e papai brigariam muito!
      -Não, sua boba, na verdade ficarão bem felizes!
      -Como assim ficarão? Vamos vê-los???
     -Olha, Sofia, quando uma pessoa vai embora desse mundo elas vão para outro, chamado CÉU onde tudo é bom e não tem nada de ruim.
      -E eles estão lá esperando a gente?
      -Claro que estão, e muito felizes pois dali em diante ficaremos juntos para sempre!

       Depois disso, acordei, era apenas um sonho... olhei para o lado e estava minha irmã do meu lado junto de meus pais... Tinham achado a cura da doença e vivemos juntos para o infinito e além.
       Um raio de sol entrou pela janela da sala tocando meu rosto. Virei para o lado e dei de cara com minha irmã com um pequeno bolo na mão. Era meu aniversário de 13 anos. Havia ficado em coma por 1 ano. Papai e mamãe não estavam entre nós.
        Estava doente e ainda esperava pela cura...

***


O MISTÉRIO DE MARGARETH
Escritor: Tomás

             O mundo sofre de uma crise, todos começam a perder completamente a sanidade mental, basta abrir a porta de casa para que uma pessoa desperte a loucura em seu ser. Não há mais governantes, todos consumidos pela alienação.
            Em casa em um jantar, solitária, se encontra Magareth. É a única de sua cidade que ainda não enlouqueceu. Ela vivia triste, pois sua mãe atingida pela depressão, praticou suicídio. Seu pai havia se tornado um psicopata e foi condenado à morte por matar o prefeito da cidade.
            Ela desenvolveu uma loucura diferente. Sempre que citavam seu pais ela começava a ficar pálida, fraca e começava a ofegar muito. Essa doença não se manifestava muitas vezes, mas quando acontecia era algo espantoso.
           Nessa época ninguém mais podia sair de casa por conta dessas alienações que funcionavam como o contágio de um vírus. Um tempo depois, bateu na porta da casa de Margareth e disse:

        - Oi filha, o papai consegui escapar da prisão antes que fosse morto!!
     
          Ela ficou pálida e começou a ofegar muito, então disse:

         - Saia daqui, seu louco. Volte a prisão para nosso bem.
         - Tá bom, filha, mas no ano que vem eu vou ser liberado da cadeia. Consegui provar a minha inocência.
         - Por favor, papai, saia antes que eu morra!!!

          O pai, assustado, saiu correndo para longe de casa.

           Durante todo o ano, Margareth ficou agoniada pensando em aquilo que seu pai havia dito e
ela tinha crises de asma toda vez que vinha à sua cabeça a figura de seu pai. Mesmo assim ela ficava pensando: "será que ele era inocente e vai realmente voltar? Ele ainda é um psicopata? Eu sou uma psicopata?"
          E ela começou, desde sua conversa com seu pai, a ter ações estranhas como arrancar seus cabelos e quebrar suas unhas, sempre que pesava que ela pudesse ser psicopata igual ao pai. Faltavam apenas dois meses para a possível volta de seu pai quando bateu na sua porta um carteiro que disse que tinha uma carta de sua avó. A menina abriu e pegou a carta. Começou a ler e se arrependeu. Era na verdade uma carta de sua mãe. ela dizia que seu pai havia morrido.
           Na hora que Margareth teve essa notícia ela lembrou que sua mãe tinha morrido e que isso só podia ser uma mentira. Depois de tantos neurônios queimados, ela escutou:
     
        - Filha, isso tudo é uma ilusão.
        - Estamos todos mortos um na cabeça dos outros

         Ela, recebendo essa informação ficou perturbada e cometeu suicídio.


***


Vó, você poderia contar uma história para nós! 
Escritor: Henrique


      - Vó, você poderia contar uma história para nós!
      - Sim, mas enquanto eu termino de jantar vocês vão arrumando a sala.
      - Pronto, agora vamos?
      - Vamos.

       "Quando eu ainda era jovem, forte e saudável, eu tinha apenas 16 anos quando ocorreu um acidente em uma usina nuclear ao lado de um vulcão cujo nome não me lembro porque, na época, houve coisa que mexeu com minha memória e não consigo lembrar. O mundo foi infestado de radiação e gases tóxicos. No início, alguns morreram porque o pulmão parou de funcionar. Em seguida, todos que moravam nas cidades desenvolveram câncer, porque as cidades continham usinas nucleares subterrâneas, e quando desabou a primeira, soltando os produtos químicos e radioativos, aconteceu uma reação em cadeia.
        Meu pai e eu nos isolamos em um abrigo na floresta, a maior parte dele era subterrânea, mas tivemos vários problemas no caminho.

      - Corre, filha, corre, não temos mais tempo!

       Meu pai gritava. Um bueiro explodiu perto de mim, e acabei inalando gases tóxicos que alterou coisas no meu cérebro.

      - Pai, socorro, não consigo ver direito!

       De repente acordei no abrigo, não me lembrava mais o que havia acontecido.

      - Pai, quando isso terminará? Eu não aguento mais ficar presa, não tenho nem músculo direito para levantar a minha perna.
      - Não sei, filha, não há previsões, parece que teremos que ficar um longo período.
      - Pai, já estamos há mais de um ano e o estoque de comida está quase vazio.
     
        Então começamos a plantar até embaixo da terra.

      -Pai, por que há bonecos na minha frente? Se o senhor não tivesse morrido não sobraria comida para esse ano. Quem diria que a alguns anos atrás você conversava comigo e agora larvas crescem por sua carne onde costumava a abraçá-la, agora tenho que comê-la."


      -Nossa vó, porque a senhora está dizendo isso, mãe estou com medo.

     - Hora do remédio, mãe.

***



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